terça-feira, 8 de setembro de 2009

Solidão

Tudo cheira a nostalgia. Tenho vontade de chorar, vontade de ter motivos pra chorar, saudade da tristeza de outrora, daquela dor que não passava, que começava no peito que descia pelo estômago. Da ansiedade sem fim, da saudade do que não existiu. Da falsa alegria, da euforia passageira. Das lágrimas que amanheciam. Os sentimentos pareciam tão mais reais naquela época, tudo era mais real, mais intenso. Principalmente o vazio.

O que resta agora? A saudade, somente saudade.

domingo, 19 de julho de 2009

Insustentável

"Apercebia‑se agora de como tinha sido injusta: se realmente lhe tivesse um grande amor, teria ficado com ele no estrangeiro! Lá, ele era feliz e tinha uma vida nova diante de si! Mas ela, ela deixara‑o, ela viera‑se embora! É claro que se convencera que estava a praticar um ato de generosidade, que só se vinha embora por não querer ser um peso para ele! Mas seria essa sua generosidade mais do que um subterfúgio? Na realidade, ela bem sabia que ele havia de voltar, que havia de vir ter com ela! Chamara por ele, arrastara‑o consigo cada vez mais para baixo, como as fadas atraem os camponeses para as turfeiras e lá os deixam morrer afogados. Aproveitara um momento em que o apanhara com dores de estômago para arrancar‑lhe a promessa de que iriam viver para o campo! Como fora manhosa! Fora‑o sempre atraindo atrás de si, sempre para pô‑lo à prova, sempre para se assegurar do seu amor, e fora‑o atraindo sempre até ali, até ao estado em que o vê agora: grisalho e cansado, com os dedos meio mutilados, dedos que nunca mais poderão pegar num bisturi."


(A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera)


Esse texto significa muito para mim. Significa evolução, um caminho que decidi por livre e espontânea vontade não seguir. Significa liberdade e o amor puro e leve como o ser.

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