sexta-feira, 29 de junho de 2007

Clarice Lispector - Parte 4

São apenas trechos de contos, mas que não perdem seu sentido se retirados do contexto... Por isso eu estou 'guardando-os' aqui... Me apaixono mais a cada linha que leio!

“ (...) Estou precisando de um determinado acontecimento sobre o qual não posso falar. E dá-me de volta o desejo, que é a mola da vida animal. Eu não te quero para mim. Não gosto de ser vigiada. E você é o olho único aberto sempre como olho solto no espaço. Você não me quer mal mas também não me quer bem. Será que também eu estou ficando assim, sem sentimento de amor? Sou uma coisa? Sei que estou com pouca capacidade de amar. Minha capacidade de amar foi pisada demais, meu Deus. Só me resta um fio de desejo. Eu preciso que este se fortifique. Porque não é como você pensa, que só a morte importa. Viver, coisa que você não conhece porque é apodrecível - viver apodrecendo importa muito. Um viver seco: um viver essencial. (...) ”

O Relatório da Coisa - Clarice Lispector

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Clarice Lispector - Parte 3

“Pois no Rio tinha um lugar com uma lareira. E quando ela percebeu que, além do frio, chovia nas árvores, não pôde acreditar que tanto lhe fosse dado. O acordo do mundo com aquilo que ela nem sequer sabia que precisava como numa fome. Chovia, chovia. O fogo aceso pisca para ela e para o homem. Ele, o homem, se ocupa do que ela nem sequer lhe agradece; ele atiça o fogo na lareira, o que não lhe é senão dever de nascimento. E ela - que é sempre inquieta, fazedora de coisas e experimentadora de curiosidades - pois ela nem se lembra sequer de atiçar o fogo: não é seu papel, pois se tem o seu homem para isso. Não sendo donzela, que o homem então cumpra sua missão. O mais que ela faz é às vezes instigá-lo: ‘aquela acha’, diz-lhe, ‘aquela ainda não pegou’. E ele, um instante antes que ela acabe a frase que o esclareceria, ele por ele mesmo já notara a acha, homem seu que é, e já está atiçando a acha. Não a comando seu, que é a mulher de um homem e que perderia seu estado se lhe desse ordem. A outra mão dele, a livre, está ao alcance dela. Ela sabe, e não a toma. Quer a mão dele, sabe que quer, e não a toma. Tem exatamente o que precisa: pode ter.

Ahn, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.”

Vida ao Natural - Clarice Lispector


É, a efemeridade dos sentimentos não é privilégio de poucos...

Escrever como ela é um dom divino. Textos assim me deixam próxima ao nirvana. Não aqueles textos pedantes de pessoas que acreditam escrever algo realmente bom só porque tem alguma técnica e um computador conectado à Internet e é viciado em Wikipedia e ao descobrir algo ‘novo’ tem que colocar isso no seu texto... Conheço algumaS pessoaS assim... Infelizmente no plural... x.x

Por reconhecer minha ignorância e minha falta de talento que transcrevo aqui sábias palavras de alguém que provavelmente me entenderia.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Clarice Lispector - Parte 2

Sentimentos humanos... Ou quem sabe não tão humanos assim...

“(...) Porque, embora meu, nunca me cedeste nem um pouco do teu passado e de tua natureza. E, inquieto, eu começava a compreender que não exigias de mim que eu cedesse nada da minha para te amar, e isso começava a me importunar. Era no ponto de realidade resistente das duas naturezas que esperavas que nos entendêssemos. Minha ferocidade e a tua não deveriam se trocar por doçura; era isso o que pouco a pouco me ensinavas, e era isto também que estava se tornando pesado. Não me pedindo nada, me pedias demais.

(...) Mas só tu e eu sabemos que te abandonei porque eras a possibilidade constante do crime que eu nunca tinha cometido. A possibilidade de eu pecar o que, no disfarçado de meus olhos, já era pecado. Então pequei logo para ser culpado. E esse crime substitui o crime maior que eu não teria coragem de cometer, pensou o homem cada vez mais lúcido.

(...) ‘Há tantas formas de ser culpado e de perder-se para sempre e de se trair e de não se enfrentar. Eu escolhi a de ferir um cão’, pensou o homem. ‘Porque eu sabia que seria um crime menor e que ninguém vai para o Inferno por abandonar um cão que confiou num homem. Porque eu sabia que esse crime não era punível.’ (...)”

Crime do Professor de Matemática - Clarice Lispector


Sim, um cão... Pra mim, uma metáfora...


Clarice Lispector - Parte 1

Agora à noitinha fui acordada subitamente por minha mãe. Um copo de capuccino em uma mão e um prato com pães de queijo na outra, ao lado da minha cabeça um incrível livro de contos. Logo pensei: “devo ter morrido e estou no céu!”. Mas não... A vida pode trazer surpresas bem prazerosas às vezes... Uma grande surpresa foi a descoberta que fiz: nunca sequer tinha lido um conto inteiro da Clarice Lispector. Mas em que planeta eu estava todo esse tempo? Descobri quão genial são seus contos, assim por acaso. Alguns dias atrás, não me lembro ao certo quando, minha irmã de 12 anos (é, pasmem!) apareceu com um livro de contos dela. “Melhores Contos” diz a capa. Não mente! Algumas das palavras dela resumem exatamente muitos dos meus sentimentos atuais (e nem to bancando a mega sensível não, pelo contrário, às vezes sou tomada por uma insensibilidade que assusta).

De qualquer forma vou transcrever aqui alguns trechos de alguns contos que não sairão da minha cabeça tão cedo, e no caso de saírem um dia estarão aqui bem à vista.

“(...) A uma distancia infinita eu via o chão. Ofélia, tentei eu inutilmente atingir à distancia o coração da menina calada. Oh, não se assuste muito! Às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro! A gente não ama bem, ouça, repeti, como se pudesse alcançá-la antes que, desistindo de servir ao verdadeiro, ela fosse altivamente servir ao nada. Eu que não me lembrara de lhe avisar que sem o medo havia o mundo. (...)”

A legião estrangeira - Clarice Lispector

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Então né?!

E ainda me perguntam por que eu tenho medo dos seres humanos e amo os cachorros... Pelo menos eu entendo os motivos caninos pra mudança de humor e até chego a entender porque eles às vezes mordem... (Y)

E parem com essa viadagem bipolar, ok?beijos! _|_


~ Ouvindo um zumbido chato no ouvido, capeta!

sábado, 9 de junho de 2007

MATANZA AMANHÃ!

E daí? E daí que vou dar PT no meu figão \o/
E viva os fãs só em dia de show, poser rlz! auhauauhauha

"Diz que me odeia, me amaldiçoa, mais vai morrer de raiva se me ver com outra pessoa."

~ Ouvindo: Matanza - Bota com buraco de bala

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Errata!

To me sentindo um pouco mal por dar tanto valor aos meus platonismos distantes e esquecer das pessoas de carne e osso que estão ao meu redor...
Estou tentando me retratar agora, porque um dia já me senti 'trocada' por alguém que 'não existe' e isso doeu, e ainda dói se eu for parar pra pensar no caso...
Mas não é esse o caso hoje. O caso é: talvez eu idealize demais algumas pessoas por não conhecê-las de verdade e esteja deixando pessoas reais de lado por isso...
De agora em diante tentarei conciliar pessoas reais e pessoas não-tão-reais-assim. Porque quem realmente tem mais valor é quem está por perto me amparando sempre... Mas não que meus platonismos não me amparem... Bom, acho que entenderam né?

E as pessoas reais eu posso abraçar, e irei! ^^

~

domingo, 3 de junho de 2007

O sutil toque das letras de um garoto

Eu gosto de alguém que morreu. Gosto de alguém que supostamente eu matei.

Queria gostar de alguém vivo, com voz, pele, cheiros e gostos, mas eu só consigo gostar de letras e imagens que mal conheço, e mesmo assim que me completam tanto... Esses dígitos e folhas já me completavam outrora, quando eu apenas sentia gostos e cheiros e era vazia. Olhos sem brilho, sorriso inexpressivo... Apenas uma boneca de cera, quem sabe a obra-prima de algum artista, aos olhos de alguém. A obra-prima que alguém percebeu o valor, não o valor material, não a beleza exterior, mas todo o sentimento empregado enquanto era criada por habilidosas mãos de um artista.

Enquanto não posso sentir seu corpo, sinto sua alma. E esta satisfaz-me completamente.

~