Entre prateleiras e páginas envelhecidas

Entramos na biblioteca.

- Preciso ler um livro triste, daqueles que te deixam mal por dias...

- Engraçado como quando eu leio um livro acabo me tornando o personagem durante o período de tempo que dura a leitura. Às vezes nem rola tanta identificação mas eu ajo como ele, cometo os mesmos erros, sofro como ele, e quando acaba o livro sinto um vazio que é como se tivessem arrancado minha alma de mim.

- Me sinto assim às vezes sem precisar do livro...

- Assim como?

- Sem alma. Mas é como se eu precisasse da tristeza, do drama. Como um combustível, sabe? Só quando eu estou completamente vulnerável é que consigo me tornar forte.

- É uma forma positiva de ver a fraqueza...

E ficamos olhando as prateleiras com seus livros empoeirados e tristes, esperando encontrar em suas folhas amareladas algo que pudesse amenizar todas as angústias da vida. Como num flash de consciência nossos olhares se cruzaram e aqueles olhos se assemelhavam a um rio de águas turvas em que fui afundando, e me perdendo. Embaraçoso, pensei, e desviei o olhar. Senti o toque do seu braço no meu, e sua mão pegar a minha, e esse momento durou uma eternidade. Continuamos em silêncio, de mãos dadas.

- Preciso ir, amanhã eu volto com algo em mente.

Um rápido beijo no rosto e um aceno de adeus, nem percebi o exato momento em que ele se foi. Não sei dizer por quanto tempo fiquei presa naquele momento efêmero, procurando nos livros explicação para aquele sentimento o qual ninguém nunca ousou escrever.

(...)