sábado, 17 de novembro de 2007

Nós NÃO somos os mortos

Quando li pela primeira vez "1984" de George Orwell não tinha idéia do quão próxima estava da realidade fictícia e distópica retratada no livro. Para minha grande decepção, frustração, ou sei lá como se pode chamar esse sentimento, estive durante um precioso mês da minha vida fechada entre quatro paredes, cercada de câmeras, tendo minha privacidade toda escafrunchada. Até medo de ir ao banheiro tive, vai saber onde podem ter escondido uma câmera... Exageros à parte, me sentia como um hamster: engaiolado e tendo que correr e correr na rodinha, sendo observado a todo instante. Mas o fim foi quando descobri, assim “do nada”, que todas minhas conversas via MSN estavam sendo lidas... Tudo bem, já tinha uma leve desconfiança que isso poderia acontecer mas suspeitas confirmadas tem outra cara. E o que tem de mal nisso? Aparentemente nada, afinal são só negócios... Ou não.

Tudo bem que existem leis que permitem a quebra de sigilo de logs quando em computadores da empresa e blábláblá mas essa história toda me fez pensar no rumo que as coisas estão tomando. Será que em breve irão aprovar uma lei que permita que os pensamentos dos empregados sejam controlados enquanto estão dentro do local de trabalho? É absurdo, mas não duvido de nada mais. Tentar controlar minha mente, já tentam isso mas de forma persuasiva, não quero viver para ver quais serão os novos métodos usados no futuro.

Meu nome não é Julia mas sou a todo instante levada a pensar que amor é crime, prazer é pecado e pensar é inútil. Mas não me entrego facilmente, não estou morta. Ainda não!

O que me espera no quarto 101?


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Um comentário:

kaiserguilherme disse...

Acho que a gente só conhece uma pessoa no seu silêncio. Não pelas palavras, pelas idéias, pelos atos, mas pelo silêncio. Por isso é tão difícil. Conhecer alguém é uma experiência muito difícil.
Por outro lado ser conhecido também não é nada fácil, daí esse medo de que, de repente, nossas vidas se tornem públicas, que seu quarto faça parte de um panóptico, que rastreem até a sua mente. Parece que o mundo cobra um comportamento robótico das pessoas. Mas não vou ceder a isso. Ainda tenho sonhos, isso quer dizer que não me tornei um andróide. Ou será que andróides sonham com ovelhas eletrônicas?