“(...) Porque, embora meu, nunca me cedeste nem um pouco do teu passado e de tua natureza. E, inquieto, eu começava a compreender que não exigias de mim que eu cedesse nada da minha para te amar, e isso começava a me importunar. Era no ponto de realidade resistente das duas naturezas que esperavas que nos entendêssemos. Minha ferocidade e a tua não deveriam se trocar por doçura; era isso o que pouco a pouco me ensinavas, e era isto também que estava se tornando pesado. Não me pedindo nada, me pedias demais.
(...) Mas só tu e eu sabemos que te abandonei porque eras a possibilidade constante do crime que eu nunca tinha cometido. A possibilidade de eu pecar o que, no disfarçado de meus olhos, já era pecado. Então pequei logo para ser culpado. E esse crime substitui o crime maior que eu não teria coragem de cometer, pensou o homem cada vez mais lúcido.
(...) ‘Há tantas formas de ser culpado e de perder-se para sempre e de se trair e de não se enfrentar. Eu escolhi a de ferir um cão’, pensou o homem. ‘Porque eu sabia que seria um crime menor e que ninguém vai para o Inferno por abandonar um cão que confiou num homem. Porque eu sabia que esse crime não era punível.’ (...)”
Sim, um cão... Pra mim, uma metáfora...
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